«Normal People», por Sally Rooney
Cheguei tarde a este livro, que esteve nas bocas do mundo há coisa de um ano. Foi com alguma expectativa que mergulhei nesta narrativa acerca da relação de amor e profunda amizade entre dois jovens, Connell e Marianne. Quando iniciamos esta viagem, Connell e Marianne frequentam o último ano da escola secundária e pertencem a mundos distintos: ele, um jovem popular com um forte sentido de busca de aprovação, oriundo de uma família monoparental e modesta; ela, de origem numa família abastada mas desprovida de afeto, com uma personalidade distinta que a faz ganhar rótulos de socialmente inadaptada. Por sucessivos e impostos acasos, as vidas destes jovens cruzam-se para nunca mais se voltarem a separar. Assim, ao longo do livro, vamos acompanhando o desenrolar desta relação tão profunda e complexa, que assume contornos de amizade, amor e, acima de tudo, identidade. Os dois protagonistas enraízam-se fortemente na personalidade e história um do outro, preenchendo - ou tentando preencher - vazios causados por traumas antigos e sucessivos.
Rooney leva-nos por caminhos apertados, onde somos confrontados com as assincronias obscuras destas personagens tão humanas. Creio que essa nudez inevitavelmente nos faz doer de alguma forma, toca-nos nalguma ferida que fazemos de tudo para tapar. Ao longo destas páginas, passamos pelo bullying, pela depressão, pelo masoquismo... pelo sentir que não se merece outra coisa que não a dor - em suma, pelo desespero da nossa existência quando vivemos sem sentido nem direção.
"He always reflexively imagined ways to cause himself extreme injury when he was distressed. It seemed to soothe him briefly, the act of imaginig a much worse and more totalising pain than the one he really felt, maybe just the cognitive energy it required, the momentary break in this train of thought, but afterwards he would only feel worse."
O que me prendeu a este livro não foi nem o enredo, nem a escrita em si; antes esta particularidade que a autora tem de nos entregar os nossos maiores medos despidos de preconceitos, completamente a cru. Para mim, esse é um dom. O dom de nos ensinar a empatia através de experiências e sentimentos tão diferentes - mas tão iguais na sua essência - dos nossos. A humanidade é algo difícil de exprimir. Este livro retrata-a. O ser-se humano. A dor, o sofrimento... e a sempre bonita luz ao fim do túnel, acendida pelo amor de alguém capaz de ver para além das nossas cicatrizes e vazios.
"What they have now they can never have back again. But for her the pain of loneliness will be nothing to the pain that she used to feel, of being unworthy. He brought her goodness like a gift and now it belongs to her. Meanwhile his life opens out before him in all directions at once. They've done a lot of good for each other. Really, she thinks, really. People can really change one another. You should go, she says. I'll always be here. You know that."
Avaliação: 4/5
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