«Eleanor Oliphant Is Completely Fine», de Gail Honeyman
Ao contrário de muitas opiniões que li, gostei mais das duas primeiras partes do livro, do que da última. Isto porque, apesar de compreender que o ritmo é mais lento e o enredo mais baço, me fez todo o sentido que assim fosse. O ponto forte deste livro é a personagem principal, a Eleanor, e essas duas partes foram essenciais à ótima construção desta personagem. Fiquei a conhecer-lhe os maneirismos, a ausência de leitura de ironia, a falta de compreensão de expressões subjetivas. Senti que entrei na sua cabeça - e que mente a dela! Tão idiossincrática... e isso tornou a leitura muito rica para mim. Além disso, essas duas primeiras partes pareceram-me absolutamente verosímeis. Não duvidei de nada, estava claro o impacto do trauma na vida da personagem e tudo isso com uma honestidade e detalhe que me impressionaram. Eu sei que ficção é ficção e que não devo exigir da literatura um retrato fiel da realidade - e não tendo a fazê-lo. No entanto, certos livros - especialmente os que têm uma certa carga dramática -, escorregam para a exploração do trauma de uma forma que muitas vezes me incomoda e que me faz desligar da história; não pela dureza, mas porque deixo de acreditar, e se deixo de acreditar, deixo de sentir. Nas duas primeiras partes deste livro, aconteceu o contrário. A dureza mas também a clareza do enredo tiveram uma ressonância significativa em mim - eu sei que o trauma tem realmente este tipo de impacto. E é devastador ler um livro com esses olhos de realidade.
Resta-me falar da parte de que gostei menos. A última. E o motivo pelo qual não gostei tanto desta parte foi porque, ao contrário das duas primeiras, foi demasiado rápida, como quem corre atrás de uma resolução à pressa, que ate tudo num saquinho de pano e dê ao leitor algum tipo de conforto. Percebo e aplaudo a ideia de nos deixar com esperança - porque devemos tê-la, sem dúvida nenhuma. No entanto, a rapidez com que foi feita e a falta de desenvolvimento de certos temas tão promissores deixou-me um pouco dececionada.
Ainda assim, foi, sem dúvida, uma boa leitura, que me fez sentir muitas coisas, e isso é tudo o que eu peço dos livros que leio.
Vou sentir saudades da Eleanor. Muitas. Mas parece-me que ela estará, verdadeiramente, "completely fine", pois já não está só, nem tão mal acompanhada de fantasmas do passado.
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