"The Collector", por John Fowles - Opinião
The Collector - "O coleccionador"; o brilhantismo de Fowles começa precisamente aqui, na habilidade de criar um paralelismo tão instintivamente fácil e, ao mesmo tempo, tão absurdo. O autor possibilita-nos a entrada direta na mente de duas personagens instrínseca e estranhamente conectadas; porque este é um daqueles enredos em que uma personagem vai espelhando diferentes facetas ao longo do tempo na outra, como quem escolhe a roupa adequando-a à ocasião.
Cedo percebemos que algo de bizarro se passa no modo de estar - e de ser - do nosso coleccionador (Clegg). Ele pensa saber quem é e pensa saber o que quer: "(...) I don't expect you to understand me, I don't expect you to love me like most people, I just want you to try and understand me as much as you can and like me a little if you can". A vulnerabilidade e carência que ele transpõe neste pedido ultrapassa o expresso nas palavras. De facto, conseguimos perceber que aquilo que ele mais desejou durante toda a sua vida e que jamais obteve foi, em primeiro lugar, compreensão, sentimento de pertença - a este mundo, a um grupo, a alguém. A propósito disso, Miranda acaba por lhe dizer: "Belonging's two things. One who gives and one who accepts what's given", numa tentativa frustrada de explicar aquilo que Clegg jamais compreendeu - que as relações se pautam pela autenticidade e vontade das duas partes. Estamos a falar de uma pessoa que foi privada de relações com as suas figuras de vinculação primárias, os pais. Criado por uma tia conservadora em conjunto com uma prima com deficiência, Clegg nunca aprendeu a relacionar-se com os outros de forma afetuosa e saudável. As suas emoções e sentimentos foram reprimidos e longamente canalizados, nomeadamente para o seu hobbie: perseguir, estudar, capturar e, por fim, colecionar diferentes espécies de borboletas. Depois do esforço posto em colectar, era da conquista da 'presa' que ele retirava satisfação. Esta ausência de assimilação emocional fez com que ele jamais compreendesse a verdadeira natureza dos afetos, pensando-os como algo opcional:
"M - They are beautiful. But sad.
C - Everything's sad if you make it so."
C - Everything's sad if you make it so."
O maior fosso entre Clegg e Miranda - a "coleccionada" - era precisamente o quão drasticamente afastados estavam em termos de sensibilidade. Ao contrário de Clegg, para Miranda sentir era a única opção de viver. Percebemos desde logo o quão importantes a beleza e a veracidade não só dos sentimentos mas também das intenções são para ela. Fizesse o que ela fizesse, creio que o desfecho era inevitável. A única coisa que poderia mantê-la viva, seria corresponder exatamente às expectativas platónicas de Clegg e isso era impossível. Sabemos que ele não a amava, mas antes era movido pela adrenalina da perseguição, do estudo e da captura. E, claro, da colecção. Isso transparece na sua frieza quando ela acaba por morrer : "Well, I shut her mouth up and got the eyelids down. I didn't know what to do then, I went and made myself a cup of tea".
Todo o enredo é perturbador, mas o que me tirou o fôlego foi a preparação para a perseguição da próxima vítima - sempre de forma dissimulada e em completa negação. A última frase deu-me arrepios: "But it is still just and idea. I only put the stove down there today because the room needs dryong out anyway".
Este vai ficar-me na memória.
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